Numa sociedade que glorifica a juventude, há a tendência para se esconder a velhice. Como se fosse uma doença inevitável a que estão sujeitos aqueles que passaram o teste do tempo. Como se, chegados a idosos, devessemos morrer em silêncio e sem incomodar o mundo que continuará a girar sem nós. Há sociedades mais evoluídas, que não têm esta tendência para nos separar em grupos e muito menos etários. Mas, em Portugal, os idosos são abandonados nos hospitais pelos parentes, morrendo esquecidos num canto qualquer e sem um pingo de humanidade. Trabalharam uma vida inteira e sozinhos pagaram impostos que sustentariam o fim de vida num Hotel de cinco estrelas, com meia-dúzia de médicos e vinte enfermeiras em cuidados ininterruptos. Mas o Estado atual não quer saber, não se importa. Prefere construir narrativas onde os culpados são os privados, a falta de meios, a injustiça burguesa, as alterações climáticas – todos são culpados, menos o próprio Estado e quem trabalha nestas instituições. Apesar de ser uma catástrofe invisível e todos se desembaraçarem com um encolher de ombros, é o maior sinal de decadência da nossa civilização.
Um caso conhecido é o do Lar do Comércio em Matosinhos, onde os idosos nacionais foram tratados pior do que animais. Segundo a imprensa, os diretores e a IPSS foram acusados de 67 crimes de maus-tratos, sendo que 17 agravados pelo resultado morte. Por alguma razão, no final o ministério público deixou cair 49 crimes e incluindo os mortais. Nas alegações finais falou-se de “idosos amarrados a cadeiras, falta de limpeza, pessoal médico e auxiliares, alimentação inadequada, falta de cuidados básicos de higiene, os utentes eram transportados ao hospital sem qualquer acompanhamento, estando em vários dos casos relatados, desorientados e dependentes.” Resultado? Pena suspensa, claro, pelo tribunal da relação. A IPSS ficou de pagar 500 mil euros, mas conseguiu baixar para os 90 mil. E como sabemos como funciona a justiça dos ricos neste país, jamais seriam presos até recorrerem indefinidamente ou prescreverem.
Há soluções habitacionais e modelos de gestão públicos que funcionam em outros países. Mas não em Portugal, onde tudo é complicado e custa demasiado, principalmente se não for para o bolso das pessoas certas. Vivemos num país de instintos básicos e animalescos, onde falta racionalidade e a compaixão. O maior problema é que está provado que os cuidados de longa duração estão assentes em modelos que já resultaram em outros países. Houve um ministro que falou em mudar o paradigma das IPSS, mas é evidente que as soluções simples e eficazes não podem acontecer em Portugal. Quando se fala nisto, há muita gente que fica logo com medo de perder o emprego. Sim, é nojento. De nada serve dizer que se trataria de requalificação profissional e melhoria das carreiras, muito menos apelar ao mais básico sentido de humanidade. Há uma corrente cada vez mais visível de portugueses que está muito preocupada com a substituição populacional. Mas são os mesmos que não se preocupam que sejamos cada vez mais egoístas e pouco solidários com os nossos.