Ontem à noite comecei a ouvir um som familiar perto de casa. Entrei, estavam a tocar os Nirvana. E por momentos houve poesia: eles a tocar o “smells like teen spirit” e um miúdo tenta entrar no palco num frenesim de mosh e um arrepio entra-me na espinha.
Depois o segurança brutamontes repele o miúdo, nascido muito depois do Kurt morrer, que afinal não está ali, nem o Krist, nem o Dave, nem nenhum de nós há trinta anos. Os smartphones a filmar, quietos, calados, sem mosh, sem o miúdo, que se vai embora desiludido e eu vou com ele. Porque os anos não voltam, nem o Kurt Cobain, nem eu com dezasseis anos, nem nada.
Era o Nuno Norte e os Teen Spirits no Wish. Uma banda de homenagem aos Nirvana. Esteve muito bem o vocalista, claramente um fã e detalhista. Evidentemente tem muito talento: fazer de Kurt Cobain não é para qualquer um. Quem me falou no Nuno Norte há alguns anos foi o João Gil.
O Porto precisa voltar a ser uma cidade cultural, com música underground em pequenos bares, bandas que saíram do anonimato e da garagem, desde os Taxi e os Trabalhadores do Comércio, aos GNR e os Ornatos Violeta e tantos outros. A nossa gente é criativa e talentosa, só precisa de um empurrão.