O que esperar das eleições legislativas?

O que esperar das eleições legislativas?

Com a aproximação das eleições legislativas, marcadas para setembro, o debate político em Portugal volta a reacender velhos problemas que permanecem sem solução: um défice democrático persistente, uma comunicação social frequentemente enviesada e uma economia estruturalmente fragilizada. Apesar das promessas eleitorais e das reformas anunciadas, muitos cidadãos continuam céticos quanto à capacidade – ou à vontade – dos principais partidos políticos em enfrentar estas questões de forma eficaz.

Crise de representatividade e défice democrático

Portugal tem enfrentado uma crescente desconfiança dos cidadãos nas instituições democráticas. A centralização do poder partidário, o bloqueio à emergência de novos movimentos políticos e o enfraquecimento da democracia participativa têm sido apontados como fatores que contribuem para o défice democrático.

O sistema político mostra-se cada vez mais distante das preocupações reais da população, sobretudo dos jovens e das regiões do interior. De acordo com um estudo recente da Universidade do Minho, há uma perceção generalizada de que os partidos tradicionais funcionam como máquinas de poder, dominadas por interesses internos e clientelismo, em vez de espaços de debate e renovação democrática.

O papel da comunicação social nas campanhas eleitorais tem sido igualmente alvo de críticas. Vários estudos têm denunciado a falta de pluralismo mediático, com os grandes grupos de comunicação frequentemente alinhados com interesses políticos e económicos específicos. A cobertura noticiosa tende a privilegiar os partidos do centro, enquanto as formações mais pequenas e alternativas são marginalizadas ou estereotipadas.

Além disso, a concentração da propriedade dos media em Portugal agrava este problema. Os três maiores grupos controlam a maioria da imprensa escrita, rádio e televisão, o que levanta sérias preocupações quanto à liberdade e diversidade informativa.

Economia estagnada e corrupção endémica

A economia portuguesa continua a enfrentar problemas estruturais profundos: baixos salários, precariedade laboral, produtividade estagnada e fuga de cérebros. Embora o crescimento económico tenha sido positivo em 2023 e 2024, este assentou em setores pouco sustentáveis, como o turismo e a construção.

O investimento em inovação e em sectores de alto valor acrescentado permanece insuficiente. Segundo o European Innovation Scoreboard (2024), Portugal continua abaixo da média da UE em investimento em I&D e em indicadores de competitividade.

A corrupção e a promiscuidade entre política e negócios continuam a ser um entrave ao desenvolvimento. Casos como o da Operação Tutti Frutti ou da Efacec mostram como redes de influência partidária distorcem decisões públicas e minam a confiança dos cidadãos.

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