O mercado woke e a performance empresarial

O mercado woke e a performance empresarial

A religião woke é um conjunto de regras e ideias que reúnem uma série de conceitos marxistas que se têm vindo a apropriar da sociedade, como a ideologia do género, o cancelamento, o progressismo puritano, o marxismo cultural e a intolerância moralmente superior ao que é politicamente diferente. Nenhuma destas concepções é particularmente nova, mas sim a forma planeada e insidiosa como subitamente se apropriaram das grandes corporações e dos governos. Durante todo o século vinte, os adoradores de Marx têm vindo a tentar subjugar o ocidente a um autoritarismo teológico com o fim de criar um imaginário Éden prometido. E como qualquer religião extremista, não vale a pena racionalizar, debater ou explicar que é um retrocesso civilizacional que assassinou milhões de pessoas em menos de um século: os seus seguidores foram formatados com uma lavagem cerebral. Sabemos que a génese desta doença vem do iluminismo e as excitações liberais que lhes seguiram – mas em vez de falar de política, enquadramento histórico, antropologia, sociologia ou sequer ideologia, vamos centrar-nos na gestão de empresas, de marketing e na performance financeira.

A incorporação do conceito woke tem sido muito prejudicial para as organizações e não faltam os casos onde foi gerador de grandes perdas financeiras. Os consumidores perceberam rapidamente que as reivindicações eram potencialmente enganosas, acabando por ser uma jogada que prejudicou tanto o valor das marcas quanto o potencial de uma efetiva mudança social. O ativismo empresarial é conceptualizado como uma tática de marketing emergente para marcas que buscam destacar-se num mercado fragmentado, assumindo posições públicas sobre questões sociais e políticas. No entanto, assumir uma posição pública dessa natureza nunca foi tão controverso e especialmente arriscado. Por isso, parece perfeitamente irracional que tantas empresas tenham colocado de lado a solidez experimentada da responsabilidade social e substituído pelo ativismo woke, que é algo que nasce internalizado com uma forte carga política. Pior ainda, os gestores estavam bem avisados de que isto tinha tudo para correr mal, pois já desde o início do milénio que tem sido feita investigação académica que mostrava claramente que estamos perante um comboio descontrolado a sair dos carris. E que embora a intenção seja uma típica medida de marketing ou publicidade, os indicadores sempre demonstraram que as consequências financeiras seriam o oposto do inicialmente esperado.

Nas grandes corporações mundiais é bem provável que exista o financiamento direto por parte de lobbies com enorme capacidade de capital. Embora na teoria odeiem sequer o seu conceito, sabemos bem que os fins sempre justificaram os meios para os adoradores de Marx. Agora, a pergunta que não quer calar: porque é que muitas empresas com menor dimensão relativa foram pelo mesmo caminho? A resposta mais evidente parece óbvia: ingenuidade. Uma pesquisa global da Accenture feita em 2019 dizia que 62% dos clientes esperavam que as empresas tomassem uma posição em relação às questões sociais e que o fracasso poderia significar que as empresas pagassem um preço elevado, com 53% dos eventuais consumidores a afirmar que reclamariam se estivessem insatisfeitos com palavras ou ações da marca, enquanto 47 % mudariam para outras marcas e 17% poderiam nunca mais voltar. Perante inquéritos como este, os gestores de marketing e particularmente os decisores das empresas, investiram em ações e proclamações de caráter social e tomaram posições que em termos de imagem pudessem conduzir a uma visão moderna, jovial e original – contra ideias definidas como ultrapassadas, obsoletas e antiquadas. O problema é que a liderança destas empresas mostrou não perceber nada de política e, aparentemente, de pessoas. Houve um duplo efeito negativo: um mais óbvio, mas que foi ainda avassalador do que esperavam, pela retirada irreversível dos consumidores mais conservadores; o outro efeito foi um julgamento de falta de autenticidade a respeito das marcas que não eram conhecidas por apoiar movimentos sociais, posicionando-se sobre importantes questões ideológicas que eram irrelevantes para o seu negócio principal. Agora há só dois caminhos que podem percorrer: recuar abruptamente ou manter o ativismo woke como arma de marketing. Não é ainda claro o resultado destas estratégias de fuga, mas os desfechos possíveis também são apenas dois: perdas financeiras irreversíveis ou custos astronómicos que demorarão anos a recuperar.

Claro que há um mercado em particular que foi o primeiro a ser dominado pelos adoradores de Marx e é totalmente controlado: o cultural. Sabendo bem da sua importância como forma de propaganda, inventaram a definição de colonialismo cultural, que seria a forma dos impérios oprimirem os indivíduos, para além da dominação económica e militar. Há muitos teólogos marxistas que teorizaram sobre isto, mas o interessante é que passaram de oprimidos a opressores, algo que se alastrou nas artes durante todo o século XX. Por exemplo na literatura, o nobel é um reconhecimento dado a um ativista de esquerda que também sabe escrever e raras vezes foi dado a um grande escritor que também era ativista de esquerda. Lembro-me bem do engano que foi a atribuição do prémio a Mario Vargas Llosa em 2010 e as vozes histéricas dos próprios escritores suecos: afinal ele já não era socialista e algures na década de oitenta tinha virado à direita. Termino pois com uma opinião que vai fazer desmaiar os membros da religião woke: não foi coincidência que de tantas dezenas de escritores geniais que tivemos no século passado foram logo dar o nobel a um revolucionário comunista que expurgou 24 jornalistas por terem ideias anti-estalinistas e terá afirmado “este jornal que dirijo vai ser o instrumento, nas mãos do povo português, para a construção do socialismo”. Hoje não é proclamado assim tão abertamente, mas a nova tendência de substituir palavras nos livros clássicos é uma forma clara de reescrever a História com um paternalismo religioso severo e autoritário, que nem nos dá o direito de escolher aquilo que nos ofende e que decide o que devemos ler, ouvir e ler. Quem assistir de braços cruzados à ascensão vitoriosa da religião woke na cultura será tão culpado como os que atiraram livros para a fogueira no auge da alemanha nazi. Aqui só há dois lugares pelos quais cada um de nós será lembrado no futuro: o certo ou o errado.

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