O jornalismo atual está num momento histórico decisivo. Entre ser um instrumento do poder político ou de corporações que detêm os grandes grupos de comunicação social. Sabemos que não há almoços grátis. Se os jornais dependerem dos apoios do Estado para sobreviver, algo está mal. Se as televisões têm comentadores que servem para as pessoas não terem de chegar às próprias conclusões, algo está mal. Se os jornalistas são doutrinados desde a universidade e têm de manter certa linha ideológica para ter trabalho, algo está mal. Mas nada muda se esse poder na comunicação social é exercido por intermediários, neste caso quem injecta o capital nos grupos económicos. De uma forma ou doutra, só serve para dar uma ilusão de democracia onde há coletivismos autoritários.
Nestes dias, liguei o noticiário e estava um jornalista da SIC Notícias a usar o espaço televisivo para fazer uma manifestação de opinião sobre Luís Montenegro. Não concordo com Luis Montenegro em muitas coisas. Alias, saí do PSD porque não podia continuar num partido sob a sua liderança, assim como de alguns dos que o rodeiam. O que se passa neste momento é uma selva e não há órgãos que coloquem um ponto de ordem, nem associações profissionais, nem a entidade reguladora da comunicação-social (ERC). Eu próprio senti isto na pele nas últimas eleições autárquicas no Porto, onde houve a narrativa aberta dos “sete candidatos” e só aconteceu um debate televisivo em que pude participar: na RTP, curiosamente na mesma hora de um jogo de futebol. Como mesmo assim terá havido quem ficasse incomodado com as minhas críticas diretas aos reis da política nacional, não voltei a ser convidado. Evidentemente, fiz queixa à ERC que aceitou as justificações da SIC e declarou culpada a TVI, simplesmente instando a que “não voltasse a fazer o mesmo.” Fiquei a saber, na pele, que a ERC não serve absolutamente para nada, a não ser para eternizar o poder dos donos disto tudo. É que em dezenas de queixas que fiz, nessas e noutras eleições, o resultado foi sempre nada, zero, bola. Para se ter tempo de antena sobre o que vai mal no país e nas cidades, tem de se fazer parte da cartilha: são os famosos comentadeiros do sistema, que tanto entretêm os adeptos partidários, mas que não ousam questionar os alicerces desta “democracia”.
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